Porto, 1 de fevereiro de 2019 –
Estou cansada de ouvir comentários cheios de falta de imaginação, como sejam aquelas questões ou acusações associadas à vida “normal” – mas sem normas que se prezem e se aproveitem para a construção de um melhor mundo. Valorizamos o alheio e aquilo que queremos ter, mas que não precisamos. Conviver diariamente com outros seres humanos é realmente desafiante, quando aquilo que se espera se limita a previsibilidades e horizontes definidos por esperanças vulgares. Como é possível chegarmos a sentir que aquilo que realmente importa é menorizado e ostracizado? Afinal de contas, falar de modos de vida é um tabú largamente ignorado e desvalorizado…
Vivemos “normalizados” e crescemos para ser “normalizantes”, oprimidos e desviados daquilo que realmente importa: estar bem com o próprio e os demais. E na frase anterior vemos, já, o porquê: ao referir-me a como me sinto, tive necessidade de usar adjetivos no plural; como se se vê, palavras com terminações que podem ser comuns a dois géneros, na nossa língua materna, são banalmente – de novo, não creio que haja uma norma que o justifique – finalizadas no masculino.
Como mudar ou fazer-nos/nas ouvido/das? Falar, escrever, deixar um traço, uma herança cultural, algo que possa perdurar ideias no tempo e apele à ação e à revolução. A mim, escrever ajuda-me bastante a interpretar os meus impulsos e as minhas emoções. Só assim arranjo coragem para expor o que sinto e sei que só assim consigo transmitir a necessidade de mudança da visão de (estilo de) vida da multidão.
Que nunca te sintas sozinho na escuridão.
“I learned everyone dies alone. But if you meant something to someone, if you helped someone, or loved someone. If even a single person remembers you, then maybe you never really die. And maybe… this isn’t the end at all.”
– The Machine, “Person of Interest”
Sofia Rainho
(publicado na Frígida, Fanzine do Coletivo Feminista de Letras)
