Las luces nocturnas de la ciudad grande me hablan de ti

Lisboa, 30 de outubro de 2023 –

Eu nasci do vento e da espuma do mar. As memórias de uma infância prolongada levam-me a pensar-te. Nunca to disse, mas apaixonei-me pela tua ilha antes de me apaixonar por ti.

Todos os dias passo por lugares que me lembram das tuas feições, lugares onde seríamos felizes, juntinhas, talvez. Penso naquelas tardes em que nos reuníamos lá em casa e ficávamos só a existir, a partilhar do mesmo espaço, a discutir guerras sem sentido, cada uma para cada lado…

Até te conhecer, eu odiava Lisboa. Mudaste a minha abertura a esta cidade de sonhos desfeitos e beleza camuflada. Lembro-me da tua expressão – da desconfiança que se foi esbatendo na virtude da caridade –, mas sobretudo da música, de comunicar para além das palavras. As guitarradas nunca mais soaram iguais. Comprometeste, como outrora outra o já fizera, o meu amor incondicional pela música, pelo roçar inconsciente das cordas e pelo sentir os dedos dançarem sem destino em busca da harmonia. E a responsabilidade é minha e só minha.

As noites passam por mim sem eu passar delas. A tua indiferença dói-me. Agora, a única coisa que é boa e que me faz lembrar-me de ti é Lisboa. Agora, tenho de aprender a amar esta cidade que me oprime pela falta de paz e esperança num futuro melhor. E é por isso que muitas noites me volto para ver a tua varanda. Quero chegar a casa, mas os meus pés conhecem melhor o caminho até ti. A casa.

Esquecer-te é demasiado. Lembrar-me de ti é perigoso. Viver é encher a memória de novo para que a recordação de ti se afogue nos traços do passado.

Sofia Rainho

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