Liss a bona

Lisboa, 31 de janeiro de 2024 –

É estranho sentir-se uma estranha na própria terra. É estranho sentir-se de fora quando se diz que se é de dentro. É estranho que eu oiça a cadeira na sala a chiar, os talheres a bater no prato, as vozes de quem está enamorado e o chão a ranger debaixo dos pés deles – mesmo estando no quarto, sozinha, porta encostada, fones de cabeça com a música no máximo. É estranho que tudo isto me incomode.

Digo que não sou feliz em Lisboa a quem mo pergunta. Digo que quero mudar de cidade porque aqui tudo é maior, mais confuso e barulhento, cheio de pessoas. Digo também que o curso me faz sentir inútil, que as pessoas me aborrecem e que me sinto sozinha.

Mas a verdade é que aqui encontrei verdadeiros amigos, daqueles que sei que duram a vida inteira. Mas a verdade é que nunca fui mais independente do que agora, e sempre o desejei ser. Mas a verdade é que não aproveito tudo o que esta cidade tem para me oferecer, seja em cultura, seja em oportunidades de conhecer tanta gente e tão diversa. Mas a verdade é que cada vez mais me sinto feliz.

E enquanto me disserem que vou ficar aqui para sempre, quero fugir daqui para fora. E enquanto assumirem que Lisboa é uma cidade com futuro e para gente que quer um desses brilhantes, duvidarei dos potenciais caminhos que me oferece. E enquanto me lembrar de ti, naquelas tardes de sol molengo, saberei que não sou a mesma sem estares aqui.

Obrigada por ensinares que o dom da vida não é valorizado o suficiente todos os dias. Sou feliz? Sou, feliz? Sou feliz. Sou. Feliz.

Sofia Rainho

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